terça-feira, 3 de agosto de 2010

Periodização física x periodização tática

A sobrevida do preparador físico passa pelo esclarecimento dessas duas linhas de trabalho*
Wladimir Braga
"A verdade jamais é pura e raramente é simples." (Oscar Wilde)


Muito se fala, nos dias atuais, a respeito da periodização tática e na redução de espaço nas comissões técnicas para o preparador físico. Este mesmo autor que aqui vos escreve, em um dos artigos, destaca o fim dessa função. Na verdade, no fim da forma reduzida em que se encontra inserido esse profissional.
 
O que ocorre de fato é uma onda de admiradores da nova forma de pensar o futebol (periodização tática), em que os jovens profissionais, impulsionados pelo anseio de se tornarem sofisticados e atualizados, se jogam de cabeça numa metodologia de treinamento que vai muito mais além do que acontece no dia-a-dia de trabalho.
 
 
Na periodização tática, nada ou quase nada tem a ver com rendimento físico puro. Nesse conceito, tudo é dependente do modelo de jogo, organizado em princípios, sub-princípios e sub-princípios dos sub-princípios de jogo. Ainda podemos reforçar que o conceito de fadiga está totalmente agregado ao desenvolvimento de situações- problema envolvendo exigências cognitivas em que os aspectos psicológicos, físicos e táticos estão embutidos.
 
Enfim, podemos sugerir ou ainda definir que nessa linha de trabalho não há espaço para o preparador físico, decisivamente, salvo na sala de musculação, função esta que pode ser destinada, também, ao fisioterapeuta. Assim, no campo de trabalho, as questões motoras específicas da modalidade são destinadas ao treinador e auxiliares técnicos que, em perfeita sintonia, têm plena consciência do modelo de jogo (anteriormente mencionado) e trabalham apenas em função dele.
 
Pela periodização física, dentro dos vários modelos existentes (períodos, blocos, ciclos, etc.) e dos vários autores conhecidos (Verkoshansky, Matveev, Valdivielso, etc.), podemos definir como a forma de treinamento ou preparação em que os aspectos técnicos e táticos estão agregados ao treinamento físico.
 
Os componentes físicos são organizados em períodos para a obtenção de melhor desempenho em determinado momento da temporada, ou em blocos, buscando um nível de trabalho alto em grande parte do ano. 
 
 
Com isso, a figura do preparador físico é peça fundamental para a manutenção, aquisição de rendimento físico, recuperação física e principalmente no planejamento do trabalho. Mesmo no trabalho integrado com aspectos táticos e técnicos, a carga de trabalho respeita capacidades e intensidades físicas e seus objetivos.
 
Ainda sim, um treino tático de 11x11 (também conhecido como coletivo), mesmo considerando a carga cognitiva, esta última, ainda assim, caminha no mínimo ao lado com a carga física.
 
Considerando essas duas formas de se planejar, pensar e trabalhar o futebol, podemos compreender alguns pontos que são fundamentais ao se optar por uma delas:
 
ü       As duas formas são eficientes;
ü       O entendimento da linha de trabalho nas duas formas é fundamental;
ü       O preparador físico só existe realmente, de forma atuante, na periodização física;
ü       É importante entender a “cultura” esportiva das pessoas, países ou clube em que vai trabalhar, principalmente se for com categoria de base;
ü       O treinador em qualquer nível de treinamento é que irá definir se quer na sua comissão preparador físico ou auxiliar técnico (mesmo que o preparador físico o ajude também em questões técnicas e táticas);
ü       O objetivo do preparador físico e do auxiliar técnico é trabalhar em função do treinador, e não o contrário.
 
Continuando esse assunto, afirmo que o preparador físico continua “vivo”, não de forma descontextualizada, mas bem integrado às posições e pontos de vista do treinador, que é o chefe da comissão técnica que trabalha com os conteúdos técnicos e táticos agregados ao treino físico na planificação do desempenho.
 
Mas essa função acabou, com certeza, para os adeptos da periodização tática. Contudo, não acredito que uma das duas seja a melhor forma, mas sim que o melhor trabalho é aquele realizado em função das aspirações, pensamentos e metodologia utilizado pelo treinador.
 
A questão maior é que a periodização tática não é sustentada pelos trabalhos com jogos reduzidos ou mesmo treino físico com bola (como alguns acreditam, aliás, não há treino físico nessa forma), ela é justamente uma questão de entendimento de seus mecanismos e de uma compreensão profunda de como ocorrem as adaptações pelo treino sustentado no modelo de jogo.
 
Assim, não é aconselhável se aventurar por ela sem esse entendimento e, portanto, é melhor continuar com a outra linha em que a fragmentação pode facilitar o planejamento e o entendimento dos fatores.
 
Finalizo esse artigo aconselhando os jovens preparadores, treinadores e dirigentes a considerarem a última afirmação para que haja um entendimento único em seus respectivos clubes e comissões.
 
*ARTIGO PUBLICADO E EXTRAIDO NO SITE UNIVERSIDADE DO FUTEBOL
                    

Um comentário:

  1. Wladimir,
    Se quiser adicionar o link do meu blog, pode ficar à vontade!
    Futebol – Paixão e Profissão
    OBS: O seu já está adicionado no meu blog.
    Abraços!

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