terça-feira, 1 de junho de 2010

O fim do preparador físico no futebol

Uma reflexão a respeito dessa função
Wladimir Braga
A modalidade futebol é caracterizada como esporte de tomada de decisão em que todas as capacidades físicas são solicitadas de maneira variável de acordo com momento tático do jogo ou natureza competitiva de cada partida.

No treinamento, ao isolarmos as valências estaremos desenvolvendo o “físico” para aquela exigência treinada de forma isolada, mas não melhorando a performance do atleta para o futebol.

Um atleta veloz, forte ou resistente não necessariamente é um jogador de futebol veloz, forte e resistente.

Sendo assim, para a formação de equipes e atletas, se torna necessário embutir as capacidades físicas em cada variável tática aprimorada e assim eliminar o maior equívoco do treinamento em esportes coletivos: por que realizar periodização física num esporte que é tático? E ainda, num esporte de jogos durante todo o ano, em que momento está o pico de rendimento?

Continuando o raciocínio, as categorias de base do Brasil precisam repensar um acontecimento freqüente: testes físicos.

Os testes não aprovam, não reprovam e não escalam jogador. Definitivamente, se o método situacional de treinamento (jogo) for utilizado, as informações dos testes de nada servirão.

Se o jogador cumpre função tática, o que um teste físico vai nos dizer?

De repente, para o fisioterapeuta, vai ajudar a diagnosticar alguma coisa (velocidade e impulsão).

Assim, a partir do momento em que a periodização tática comanda o processo de organização do treinamento, a forma de treino situacional é utilizada como ferramenta, abordando a capacidade de jogo caracterizada não por parâmetros físicos, e sim pela cognição, podemos concluir que a forma não é física, e sim tática. O componente físico está embutido no tático, é um engano separar.

Desse modo, qual seria o papel do preparador físico tradicional hoje?

Na prática, “atrasar a vida do treinador”, porque os tradicionalistas ainda acreditam no mito da “base aeróbia” como desculpa para colocarem os atletas para trabalhar “fisicamente” no início da temporada e assim cometerem mais um engano: a velha divisão: o físico, o técnico e o tático. Logo, chamam o tático e o técnico de não físico.

Daqui pra frente, esse profissional vai ser alvo de muitas discussões. Cabe a ele acompanhar as mudanças e se moldar às exigências do futebol. Não é o fim do indivíduo e sim a concepção dessa função. Talvez uma forma mais ampla de pensar o futebol será atribuída a esse profissional. Alguém que seja um “link” com as áreas de conhecimento e assim com todos os setores envolvidos na performance da equipe.

Não podemos falar em números para que isso ocorra (cinco, dez ou 15 anos), mas esse profissional vai ter de se aprimorar no treinamento preventivo juntamente com os fisioterapeutas e assim trabalhar na única capacidade física que realmente é treinada de forma pura (força). Talvez seja o único momento em que o atleta treinará de tênis (na sala de musculação).

Ainda sim, esse nome, preparador físico, provavelmente passará a se chamar auxiliar-técnico. O novo auxiliar terá como função trabalhar variáveis táticas isoladas, auxiliar o treinador na elaboração da periodização tática, nos trabalhos técnicos e principalmente, considerando seu conhecimento teórico, ajudar no controle dos conteúdos ministrados (volume/intensidade/objetivo tático).

Portanto, é fundamental que os clubes e os centros de conhecimento repensem o trabalho deste componente da comissão técnica.

* Preparador Físico do Clube Atlético Mineiro e membro do GEAF.
**artigo extraido do site Universidade do Futebol

Um comentário:

  1. Congratulo-me consigo pela qualidade das postagens e pela iniciativa de partilhar conosco seus conhecimentos. Com a mudança efetuada a leitura foi tremendamente facilitada. Sucesso! Abraço. Benê Lima.

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